27 novembro 2006

Bento XVI na Turquia



Não está a ser pacífica a viagem que o Papa Bento XVI irá fazer à Turquia entre amanhã (dia 28) e 30 de Novembro.
Desde que pronunciou o discurso em que citou um imperador do século XIV dizendo que o profeta do Islão Maomé nada tinha trazido de positivo à humanidade e ordenara aos fiéis que usassem a violência para disseminar a fé, o Papa tem sido alvo de uma amarga reacção muçulmana em todo o mundo. Bento XVI reaguiu dizendo que lamentava as consequência das suas palavras mal intrepretadas, mas não se retratou das declarações, motivo pelo qual muitos muçulmanos não lhe perdoam.

Este fim-de-semana, em Istambul, cerca de 50 mil manifestantes protestaram contra a visita do Papa à Turquia. O protesto foi organizado pelo partido político turco pró-islâmico chamado "Felicity". Líderes do partido se disseram ofendidos pelas declarações do papa que sugeriam uma ligação entre violência e islamismo. A multidão gritava "Deus é grande" e carregava cartazes exigindo que o papa não vá ao país.

Convidado por Bartolomeu I -líder espiritual dos ortodoxos e patriarca de Constantinopla (nome cristão de Istambul) Bento XVI será o 3º papa a visitar a Turquia.
As formações mais radicais estão convencidas de que a reunião prevista entre Bento XVI e Bartolomeu I não se destina a aproximar as duas Igrejas, mas a criar uma aliança contra o Islão.

Com os ânimos extremados de uma população de 70 milhões de habitantes em que 98% é muçulmana, logo hostil, o risco de atentado é elevadíssimo. Por isso são draconianas as medidas de segurança, e o avião em que viajará Bento XVI será escoltado por dois caças turcos assim que entrar no espaço aéreo e até ao aeroporto; depois seguirá num automóvel blindado, com dois outros veículos semelhantes ao seu lado sem passageiros. Membros das Forças Especiais protegerão o Sumo Pontífice durante toda a viagem e 3000 polícias em Ancara. Haverá 4500 polícias em Istambul, e 1275 em Izmir, apoiados por helicópteros no ar.
O Governo de Ancara sugeriu que Bento XVI usasse um colete à prova de bala, mas o Vaticano declinou, mesmo sabendo que um dos livros mais vendidos do país se intitula "Atentado contra o Papa: Quem matará Bento XVI em Istambul?".

A visita de Bento XVI à Turquia ocorre num momento sensível das relações políticas entre a União Europeia (UE) e Ancara, cuja adesão tem sido adiada desde 1987 e se encontra numa fase crítica das negociações, com Bruxelas a tomar uma decisão em meados de Dezembro. Nesse sentido, os sectores laicos da Turquia confiam que Bento XVI possa servir as aspirações europeias do país. E, de facto, se antes de suceder a João Paulo II, o cardeal Ratzinger manifestou dúvidas sobre a adesão do país à EU, afirmando que "histórica e culturalmente, a Turquia tem poucas coisas em comum com a Europa", já ontem o porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, afirmou que "se a Turquia cumprir os requisitos para se tornar membro (da UE), não vemos porque não", numa tentativa de desanuviar a tensão. Mas não muito. O primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, não deverá receber o chefe de Estado do Vaticano (a Turquia não reconhece a existência de uma Santa Sé), escudando-se no compromisso de assistir à cimeira da OTAN em Riga. Mas também deverá ter pesado a circunstância de haver legislativas em 2007 e a quase totalidade de eleitores ser muçulmana.

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