Na 4ª Feira, a RTBF, o primeiro canal francófono da televisão belga, conseguiu superar o célebre programa de 1938 em que Orson Wells gerou o pânico dos ouvintes, que acreditaram realmente que o nosso planeta estava a ser invadido por um exército de extraterrestres.
Do mesmo modo, a emissão especial de ontem deixou os telespectadores atordoados e perplexos, a avaliar pelos inúmeros telefonemas de cólera e de incompreensão que choveram na televisão e nas redacções dos jornais. A credibilidade da notícia foi reforçada pelos comentários das diversas personalidades políticas — previamente informadas da maquinação — que prestaram declarações ao longo dos cerca de quarenta minutos da emissão. Simultaneamente, as reportagens no terreno mostravam as consequências da decisão do Parlamento flamengo: a circular de Bruxelas paralisada, os comboios bloqueados na fronteira linguística, os aviões desviados para outros aeroportos, a sede da OTAN em estado de alerta, explosões de alegria em Antuérpia, polícias a controlar a nova “fronteira”,...
E as pessoas acreditaram. Porque há meses, há anos, que ameaças de secessão são evocadas regularmente pelos jornais. Por isso, a emissão teve o mérito de lançar o debate para a praça pública e de fazer pensar, através do choque, todos os cidadãos e não só os políticos.
Se é de louvar a coragem da RTBF, é inquietante a reacção histérica, patética e aflitiva da maior parte da classe política que, em vez de seguir o repto e pronunciar-se sobre a essência da emissão, resolveu censurar exclusivamente a sua forma, indignar-se e... puxar as orelhas ao patrão da RTBF.
Só o futuro dirá se esta sacudidela dos espíritos dos belgas virá a ter alguma influência sobre a continuidade do país.
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