13 setembro 2006

Calão Minderico

Por vezes estamos tão familarizados com as coisas que nem damos a real importância ao que nos rodeia.
É o caso do Calão Minderico, sem dúvida um dos maiores legados culturais que herdamos dos nossos antepassados e que, nós mindericos, nem sempre damos o verdadeiro valor.

Dum site brasileiro, Usina de Letras, retirei o texto que se segue, escrito por João Ferreira em 21 de Julho de 2006.

As fotos foram retiradas do livro Memórias de Minde, editado em 2000 pela Comissão de Festas do Divino Espírito Santo.

O CALÃO MINDERICO,
UMA SUB-VARIANTE DA LÍNGUA PORTUGUESA EM PORTUGAL

“Rotas de verão”, uma reportagem da TV Portuguesa SIC, transmitida no dia 21 de julho de 2006 para o Brasil, chamou-me a atenção para um detalhe que me passara desapercebido até aqui. Ao falar das grutas de Miradaire, o programa televisivo da SIC abordou, com alguma novidade para mim, um tema referente a uma linguagem especial que existe na freguesia de Minde. Essa linguagem é conhecida pelo nome de “calão minderico”, ou calão de Minde.
Minde é uma localidade portuguesa, pertencente ao município de Alcanena,distrito de Santarém, no centro do país, mais exatamente na região da serra de Aire, nas imediações do planalto de Santo Antônio. É uma região serrana dotada de importante indústria de malhas, com 42 empresas num total nacional de 147.
No Planalto de Santo Antônio existem famosas grutas e ribeiras subterrâneas que foram objeto de estudo dos espeleólogos portugueses depois de 1947 e que merecem hoje a visita quase obrigatória dos turistas em geral, nacionais e estrangeiros.
Por achar que pode ter interesse para alguns lingüistas atentos ao fenômeno e ao desdobramento da dinâmica da língua portuguesa em suas poliformas espalhadas pelo mundo, achei por bem elaborar esta nota sobre o calão minderico, baseada em dados que pesquisei na Internet. Ela tem apenas a pretensão de chamar a atenção dos que gostam de estudar as várias formas de manifestação da língua portuguesa no mundo e mais ainda dos que podem aprofundar a questão através de uma pesquisa dirigida mais rigorosa.
O calão minderico é um apêndice ou anexo lingüístico regional à sub-variante do português falado na região da serra de Aire, em Portugal. Pelo que se conhece, há hoje estudos pioneiros desta forma de linguagem, oralizada a partir do século XVIII e com testemunhos escritos desde a segunda metade do século XIX. Ultimamente, esses estudos foram dados a conhecer pelas pesquisas de Abílio Madeira Martins e colaboradores.

Na Internet é fundamental conhecer o site http://www.minderico.com que desenvolve a temática e reproduz “O Linguajar típico de Minde” ou Piação dos Charales do Ninhou. Um tipo de dicionário baseado na sua quase totalidade no Linguajar Típico de Minde / Piação dos Charales do Ninhou, edição do CAORG ( Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro ), 1993, compilação e coordenação de Abílio Madeira Martins, colaboração de Cid Manata Pires e Vítor Manuel Coelho da Silva.



Caracterização do calão minderico

Quem tem, no momento, autoridade para caracterizar, o calão de Minde é Abílio Madeira Martins, compilador e coordenador do material linguístico publicado em “O Linguajar típico de Minde”. “O Calão Minderico – diz Abílio Madeira Martins na Introdução a “O Linguajar típico de Minde” - é, como todos os demais que existiram ou ainda subsistem em terras com características étnicas semelhantes às de Minde, uma linguagem de prevenção e defesa, o mesmo se devendo dizer “ à fortiori “ das gírias usadas em certas comunidades fechadas como as dos estabelecimentos prisionais, internatos e quartéis e por determinados estratos sociais quase sempre com actividades específicas, como os estivadores, os marinheiros e outros. Com ele pretendem os seus utilizadores defender os seus interesses, dar recados ou transmitir mensagens e avisos diante de estranhos sem terem de dar a sua vida a saber.

As questões que se põem a quem pelo Calão Minderico sente ou venha a sentir alguma curiosidade são, naturalmente, as de saber quem teriam sido os seus iniciadores e quando teria principiado o seu uso. A estas questões e a muitas outras, como observadores que somos das coisas que a Minde digam respeito, temos procurado responder apenas com conjecturas baseadas nos escassos dados históricos de que dispomos e com as deduções a que nos levam as tradições do nosso conhecimento e alguns dos termos integrantes do próprio calão.

É de supor que numa terra tão pobre de recursos naturais como Minde sempre foi, sendo a míngua de água ( só ainda há tão pouco tempo mitigada ), a causa maior da sua pobreza, a cultura intelectual, num meio de tamanha rudeza e secura, não tivesse também grande relevância pelo que o analfabetismo seria a regra e os letrados as excepções. Daí que o Calão Minderico fosse de uso exclusivamente verbal desde que os antigos cardadores e negociantes de lãs o começaram a usar aí nos princípios do século XVIII. Dele não há por isso referências escritas, do nosso conhecimento, antes que António de Jesus e Silva, nos desse, já na segunda metade do século XIX, as primeiras notícias sobre a gíria dos Mindericos e a ela fizesse referências nalguma imprensa da época.
Foi pois a partir de Jesus e Silva que passou a haver o que pretensiosamente se pode chamar uma literatura de Calão Minderico, a ele se ficando a dever a ainda assim reduzida expressão escrita que teve até à data do seu falecimento em 1926.

Conscientes de que a Piação dos Charales corria o risco de se ir desgastando com as arremetidas do progresso que a vulgarização da electicidade deixava antever, os Srs . José António Carvalho , de Minde, e Dr. Miguel Coelho dos Reis, de Pernes, decidiram, cada um por sua parte, coligir os termos de que houvesse memória e dar-lhes aplicação prática na numerosa correspondência que entretanto foram trocando entre si durante os primeiros anos da década de quarenta.

Tudo leva a crer que tanto um como o outro, mas sobretudo o Sr. José Carvalho, tivessem ampliado as suas colectâneas com significantes da sua inventiva , expediente este que confere à “ Piação “ o carácter de linguagem viva e evolutiva por dar azo a uma constante actualização mercê da criatividade de quem a usa.

Já depois do falecimento do Sr. José Carvalho foi o Sr.Dr. Miguel que, solicitado a colaborar na recepção do Sr. Presidente Américo Tomás aquando da sua vinda a Minde em 21/11/1970, produziu algumas peças escritas em Calão Minderico que fizeram parte das celebrações da inauguração do Museu Roque Gameiro e que, num gesto confirmativo da dedicação que sempre teve a Minde, aos Mindericos e ao seu típico linguajar, entregou à guarda do Museu o vocabulário de Calão Minderico por si coligido durante longos anos.
Foi este vocabulário, apresentado em volume magnificamente encadernado,que serviu de matriz à edição intitulada “ Piação dos Charales do Ninhou “, publicada em 1983 sob o patrocínio da Junta de Freguesia e que actualmente se encontra esgotada.
Sobre ele nos baseámos também para esta nova edição que, por ter como finalidade principal contribuir para o relançamento da nossa “ piação “, dispensou grande parte das notas explicativas, evitou significantes caídos em desuso ou com alguma carga pejorativa, enquanto que, por outro lado vai acrescentada de novo significantes julgados indispensáveis ao “ minderico “ nos tempos que vão correndo.

Ao organizarmos esta edição, animou-nos a esperança de estarmos a contribuir para a preservação e continuidade deste valor cultural da nossa terra e daí a nossa convicção de não termos perdido em absoluto o nosso tempo.”



Léxico típico

Os organizadores de “O Linguajar típico de Minde” tiveram já o cuidado de publicar um léxico do calão minderico, organizado por ordem alfabética. O leitor poderá encontrar esse léxico completo no site já assinalado: www.minderico.com Entre os vocábulos aí assinalados, seleionamos, só para amostragem, alguns termos típicos: abobrar (=descansar), alexandrinas (=fotografias),...

(segue-se uma extensa lista de vocábulos e textos, bem como a enorme bibliografia consultada para a elaboração deste artigo)

Mais informação: Além do site, de foruns de debate e de outras várias fontes de informação em Portugal,temos um blog que está familiarizado com os assuntos de Minde e com o calão minderico: http://www.xarales.blogspot.com/.
João Ferreira, 21 de julho de 2006
in site Usina de letras

link : http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.phtml?cod=7402&cat=Ensaios

2 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimos Xarales:

Uma notícia a que valerá a pena dar uma vista de olhos:

www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=214741&idselect=10&idCanal=10&p=200

Cumprimentos,
Tenório

Anónimo disse...

isto nao presta.Ando a fazer um trabalho de minde nao á aqui nada mais vale ter ido a outro saite perder o meu tempo para que ?????????????????????????? Isto é para vosso bem isto nao presta !!!!!!!!!!!!!!!!!!